sábado, 5 de novembro de 2016

Botânica de Deus: Linho e linhaça

Outra coisa importante que se plantava em Israel era o linho. Plantava-se depois do começo das chuvas em outubro e novembro, e estava pronto para ser colhido em março. Os caules do linho eram cortados e espalhados em cima dos telhados para secar. Depois de secos, as mulheres penteavam as fibras para separá-las. Destas fibras elas teciam linha. A linha era usada para fazer um tecido fino chamado linho, do qual se fazia roupa bonita. Este tipo de roupa era usada pelos sacerdotes e outras pessoas importantes. O pano feito de linho também era usado para fazer as cortinas finas para o Templo. Os fios mais grossos do linho eram usados na fabricação de velas para os navios, correntes, e os pavios dos candeeiros. Na Bíblia também não faltam referências ao linho. Campos de linho foram literalmente devorados por gafanhotos numa das pragas do Egito. Símbolo de pureza, era o tecido usado pelos sacerdotes em seus serviços religiosos. A lei regia que tanto os sacerdotes judaicos, como os egípcios deviam usar vestimenta de linho. Até mesmo o Santo Sudário – manto ou lençol que teria envolvido o corpo de Jesus após a crucificação -, segundo os defensores de sua autenticidade, era confeccionado em linho puro. Depois que caiu nas graças dos romanos, ficou fácil para o linho propagar-se por toda a Europa. Pela facilidade em fiar, tingir e tecê-lo, passou a ser cultivado em muitas partes do mundo, até mais ou menos a metade do século XIX, quando a cultura do algodão ganhou ascensão. Antigos gregos e romanos já usavam a semente do linho na culinária. Ambos os povos louvavam os benefícios da linhaça para a saúde. Mas a popularidade do linho e sua semente foi decaindo junto com o Império Romano. A linhaça só atrairia os holofotes novamente por volta do século VIII, quando o imperador francês, Carlos Magno, impressionado com suas propriedades nutricionais e medicinais, resolveu decretar por lei que todo o povo deveria consumir a linhaça para o bem da saúde. E com isso, o cultivo do linho tornou-se obrigatório na região. Carlos Magno estava pondo em prática algo que já havia sido descrito no século V a.C. por Teofrasto, que indicou a linhaça como remédio na sua “História das Plantas”, e por Dioscórides, no século I d.C. Botânico e médico grego, Dioscórides escreveu em sua obra “De Matéria Medica” que a linhaça era indicada até para tratar queimaduras de sol.
O linho, a linhaça
Originário da Ásia, o linho (Linum usitatissimum L.) é uma planta herbácea da família das Lináceas, que pode atingir de 30 cm a 1 m de altura. Suas folhas, pequenas e lanceoladas, são dispostas de forma alternada. Já as flores apresentam cinco pétalas e são hermafroditas, surgindo nas cores azuis ou violáceas. Os frutos são cápsulas que contêm várias sementes ovaladas, muito ricas em substâncias oleaginosas. O processo de transformação do linho em tecido envolve várias etapas, começando pela decomposição do caule, que é posto de molho em água por alguns dias para separação das fibras; em seguida vem a maceração, quando são retiradas as fibras das hastes, depois vem a fiação e por fim a tecelagem. No Brasil, o linho foi introduzido no início do século XVII, no estado de Santa Catarina, e foi para outros estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul. O Canadá, país onde a planta também chegou no mesmo século, é o principal produtor mundial de linhaça. Estados Unidos, Argentina e Índia também cultivam o linho como planta oleaginosa.
Sim, a semente do linho é a linhaça! Rica em proteínas, minerais e vitaminas, a semente de linhaça contém cerca de 40% de óleo em sua composição. Abundante em Ômega 3 e Ômega 6, numa proporção harmônica, o óleo de linhaça ajuda a garantir a saúde cardiovascular, pois atua na redução do LDL, o mau colesterol. Além disso, a altíssima taxa de Ômega 3 faz da linhaça um alimento extremamente benéfico à saúde, pois trata-se de um importante agente antioxidante e renovador celular. Diversos estudos apontam para outro valioso benefício desta semente e, neste caso, as maiores beneficiadas são as mulheres. Isso porque a linhaça também é a maior fonte alimentar de lignana, um fitoesteróide de ação semelhante à do estrógeno. Os especialistas chamam a lignana de “fitoestrógeno” pois, ao se ligar a receptores celulares, a lignana funciona como um “falso hormônio”, muito útil no período da menopausa, quando as taxas desse homônio caem bruscamente. Ou seja, ela funciona como um agente natural de reposição hormonal. Essa propriedade também tem se mostrado muito útil para aliviar os temidos sintomas da TPM – Tensão Pré-Menstrual. Os estudos com um grande número de pacientes realizados pela pesquisadora canadense, Lilian Thompson, mostram a relação entre a lignana e a redução dos tumores de mama. Esse composto atua na apoptose celular, um mecanismo de defesa que provoca uma espécie de suicídio das células defeituosas. "Foi observado esse efeito em 39 pacientes", declara a pesquisadora, que as orientou a consumir 25 gramas de linhaça por dia durante pouco mais de um mês. A linhaça é também fonte de vitaminas B1, B2, C, E, caroteno, ferro, zinco, potássio, magnésio, fósforo e cálcio, além de contar com uma alta taxa de fibras solúveis, especialmente benéficas para o bom funcionamento do intestino. A ingestão diária do farelo de linhaça auxilia na redução da taxa de açúcar no sangue dos diabéticos. Mas não é só: segundo o Instituto Nacional do Câncer dos Estados Unidos, o farelo de linhaça pode ser considerado um alimento preventivo do câncer de mama, da próstata, do cólon e do pulmão.

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