quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O Rei Jesus

Certo rei teve um sonho. Nele, viu as misérias e as aflições que abatiam os seus mais simples súditos. Teve um sono perturbado. Ao amanhecer, brotou em sua alma um sentimento que nunca tinha tido antes, a compaixão. Condoído com a miséria do seu povo, resolveu se disfarçar de mendigo e sair bem cedo pelas ruas do seu reino.
Queria compreender de perto as angústias das pessoas. Desejava passar fome, frio, sentir-se rejeitado, viver anonimamente, enfim, viver o que a grande massa do seu povo vivia. Pensou que somente conhecendo intimamente o seu povo poderia ser um grande rei.
Chamou seus ministros, disse-lhes sua intenção e pediu segredo. Comentou que pretendia ficar um mês longe das mordomias do trono. Os ministros, encantados com sua humildade, o aplaudiram. O rei, revelando uma modéstia nunca antes demonstrada, agradeceu. Travestivo de mendigo saiu do palácio ocultamente, antes dos primeiros raios de sol. Não se alimentou de seu farto café. Ás dez da manhã, pediu pão numa casa, recebeu um pedaço embolorado. Recusou-se a comer e reclamou do bocado. Paciência não era uma das suas virtudes, mas o rei procurou se acalmar. No almoço, de estômago vazio, sentiu um aperto na alma e no peito nunca antes sentido, era a fome. Saindo pelas casas, ganhou restos de comida do jantar da noite anterior. O cheiro azedo embrulhou-lhe o estômago, não almoçou. Aos que lhe negavam comida, esbravejava: "Miseráveis!". Os donos das casas nunca tinham visto um pobre tão petulante.
Á tarde, encontrou alguns mendigos na praça. Puxando assunto, não lhe deram atenção. Insistiu para ser ouvido e não o ouviram, perceberam nele um aroma de arrogância. Sentindo-se desprezado, irou-se e levantou a voz. Em troca, recebeu alguns tapas e safanões. Sabem o que aconteceu? O rei jogou a toalha e retornou imediatamente ao seu trono.
De volta ao palácio, listou os homens que o ofenderam e mandou seus guardas encarcerá-los. Listou também os que lhe negaram alimento fresco e mandou açoitá-los. Por que o rei desistiu em menos de vinte e quatro horas de ser um homem simples, de conhecer as misérias dos seus súditos? Porque enquanto foi "povo", nunca deixou de ser rei.
"A história de Jesus está na contramão da história deste rei. Ele saiu do seu trono, deixou seu imenso poder e pôde ser achado entre os miseráveis de Israel. Os homens o zombaram, feriram, mutilaram, mas ele nunca retrocedeu. Conseguia se misturar de maneira tão íntima que as pessoas não conseguiam defini-lo. Alguns diziam que ele era Deus, outros um profeta, outros ainda um simples carpinteiro. O mestre da vida enquanto foi "povo" deixou de ser rei. Sua realeza estava oculta dentro de si. Quem quisesse enxergá-lo teria de ver o que os olhos não viam". Horas antes de ser preso, clamou ao Pai para que Ele o glorificasse com a glória que tinha antes que houvesse mundo e, quando estava preso, disse aos homens do sinédrio que se assentaria à direita do Todo-Poderoso. Quem era este homem? Mateus revela algo esplêndido: o menino que nasceu há dois milênios foi uma criança ímpar na história. Seu nome era "Emanuel", que quer dizer; "Deus conosco".
Segundo os homens que viveram as pegadas do mestre de Nazaré e escreveram as suas quatro biografias, o Deus Onipotente, Onisciente e Onipresente deixou um dia sua majestade e veio habitar entre os homens.

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